Gente querida,
eu sei que não tá fácil.
Tem dias que a gente entra na sala de aula com o coração apertado, com medo do que pode acontecer, com aquela sensação de estar caminhando no escuro, sem saber se o que a gente faz tá dando certo.
Às vezes, o aluno não responde porque está com medo.
Medo de errar, medo de ser ridicularizado, medo de não ser visto.
Às vezes, ele fala gritando, não por desrespeito, mas porque está acostumado a só ser ouvido assim.
Às vezes, ele chega atrasado não por descaso, mas porque cuida do irmão menor ou dorme mal numa casa barulhenta.
Às vezes, ele briga... porque é a única forma que aprendeu de se defender de um mundo que o ataca desde pequeno.
A escola pode ser o primeiro lugar onde ele aprende a confiar.
Pode ser o lugar onde ele é olhado com carinho, escutado com paciência, acolhido com dignidade.
Pode ser a chance de romper o ciclo.
E, às vezes, tudo começa com um professor que diz: “Eu estou aqui para você.”
Mas é preciso lembrar: acolher não é carregar.
O professor não é terapeuta, não é assistente social, não é responsável por consertar o que a vida machucou.
Ele é presença, é referência, é porto.
Acolher é abrir espaço de escuta, sem julgamento.
É saber que, muitas vezes, o aluno traz feridas causadas por realidades que ele não escolheu: abandono, violência, desestrutura familiar.
E sim, às vezes ele reage com raiva, indiferença, rebeldia. Mas por trás disso, há uma criança ou adolescente que está pedindo cuidado do jeito que consegue.
Por isso, o papel do professor é essencial, mas precisa vir acompanhado de limites saudáveis.
É escutar, mas sem se envolver emocionalmente a ponto de adoecer.
É acolher, sem carregar a dor no colo.
É não julgar os pais — porque eles também são vítimas de histórias que se repetem.
É não querer “salvar” o aluno, mas oferecer a ele, todos os dias, a chance de viver algo diferente.
A escola não pode mudar o que acontece fora dos seus muros. Mas pode garantir que, dentro deles, a violência não se repita.
Cada vez que um estudante é respeitado, ouvido, valorizado, ele aprende que há outros caminhos.
Cada vez que ele participa de uma roda onde não há grito, mas escuta...
Cada vez que ele é convidado a criar algo bonito, mesmo tendo vivido o feio...
Ele entende que é possível viver de outro jeito.
Nosso papel não é resolver a vida dos nossos alunos.
Nosso papel é abrir brechas de luz no meio das sombras.
E mostrar, com firmeza e afeto, que existe um mundo onde a paz é possível — e começa ali, na sala de aula.
E é essa vivência, dia após dia, que vai abrindo novas referências na mente e no coração desses adolescentes.
Se tiver um dia em que você sentir que não aguenta mais, respira fundo.
Lembra que você é humano. Que você também merece cuidado.
E lembra que a gente tá junto — como rede, como equipe, como gente que acredita que educar é um ato de amor, mesmo quando dói.
Estamos juntos nessa missão de criar experiências escolares que nutrem, que acolhem, que mostram o que é possível…
E que devolve ao adolescente a certeza de que ele é visto, valorizado e amado — do jeitinho que ele é, no tempo dele.
Sigamos promovendo vivências criativas de pertencimento, escuta e reconstrução.
Porque quando a escola acolhe, o mundo muda.
Com amor e respeito,
Taíse Telles